terça-feira, 19 de abril de 2016

uma carta sem dono.

Eu estou fazendo essa carta sem destinário, como uma forma de desabafo.
Eu não escrevo há muito tempo, eu não tenho mais intimidade com as palavras... eu estudo engenharia e trabalho com gestão. Definitivamente escrever deixou de ser prioridade. Mas eu acho que estou precisando.
Escrever, para mim, sempre foi uma maneira de expor para fora coisas que eu sei que ninguém gostaria de ouvir - ou pelo menos acho que ninguém gostaria de ouvir. Eu não tenho feito isso há muito tempo - e nem sei o motivo. Acho que me perdi a tantos números, pesadelos e fraquezas. Tem alguma Joyce abandonada por aí, que talvez nunca volte.
Hoje eu sentei e escrevi. Não sei exatamente porque. Vai ver foi porque eu percebi coisas que não queria perceber... não sei. Na verdade eu só estou escrevendo, sem nem ter um assunto, muito menos um destinatário.
Eu acho que não tenho escutado a mim mesma nos últimos meses. É como se alguma Joyce, perdida por aí, estivesse clamando por ajuda ou por alguma solução, mas ninguém a ouvisse... eu não a ouço. Eu rejeito o que sinto, rejeito a dor, rejeito a mudança. Algo dentro de mim soluça. Não tem sido nada fácil, eu to gritando por dentro... mas um grito que não sai.
Eu me tornei uma pessoa muito fechada, por incrível que pareça. A quantidade que tenho de amigos só cresceu, mas me abro com pouqussímos deles - quando me abro. Acho que as pessoas tem uma cota específica de choro por ano, e eu estorei a minha. 
Eu me tornei uma pessoa que eu mesmo não conheço ou reconheço. A mudança da Joyce do ano passado para a que escreve agora é absurda. Nem eu mesmo sei quem é. Eu não sei se conheço muito bem essa Joyce que não sabe mais escrever, que manda cartas sem destinários e que nega, de corpo e alma, qualquer sentimento que eu sei que não devo sentir.

As pessoas que eu amo tem me dado tapas na cara... muito bem dados. "Tu precisas ser forte" disse meu melhor amigo, depois de segurar minha mão e, logo depois, apontar os dedos na minha cara. "Tu precisas mudar" disse uma das pessoas que mais admiro, depois de chorar no meu ombro e me fazer chorar também. "Eu te entendo, perfeitamente" disse minha amiga mais intima, aquela que sabe até de coisas que eu não sei mais de mim - enquanto também sente o que não quer sentir... "quem dera eu fosse um pouco Joyce".
Hoje, eu relembrei as coisas que fiz nos últimos meses. Não sei mais o que sinto. Não sei se ela tem razão... se ela deveria ser mais Joyce, ou eu deveria ser um pouco mais o que ela é. Eu não sei. Eu não escrevo mais porque eu não tenho inspiração, eu não tenho mais o que escrever.

Eu queria escrever uma carta, com destinatário. Eu sei exatamente o que eu escreveria nela. Mas também sei que o destinatário não ia entender essa pouca intimidade com as palavras, muito menos com os sentimentos. Então eu não escrevo. Mas minha vontade é arrancar tudo que eu sinto do peito, mesmo não sabendo que sentimentos são esses.

Eu estou escrevendo isso porque, depois de uma conversa com outros amigos, alguém fez uma profecia pro meu futuro... eu não gostei. Fiquei pensando em quem eu posso me tornar, já que não estou sendo o que eu quero ser. Mas eu não sei, não tenho mais as respostas. Acho que não tenho mais nem as perguntas.

Eu quero fazer uma infinidade de coisas na minha vida... não sei por onde começar. Talvez voltar a ter intimidade com as palavras me fizesse bem. Eu tenho vivido experiências que antes nunca havia vivido, me relacionado com pessoas que jamais pensei em me relacionar, feito planos que eu jamais pensei em fazer. Adquiri um hobby que eu mesma condenava. Eu nem falo mais dos meus sentimentos, o que antes era pauta para qualquer conversa de bar que eu partipasse...
Ao mesmo tempo tem algum vazio dentro de mim.

E quanto a essa carta... ela tem, sim, um destinário. Mas eu sei que ele nunca vai ler. E eu finjo que eu nunca escrevi. Acho que essa é mais uma das coisas que eu ando negando a mim mesma.



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